Curado do câncer, João Guilherme é exemplo de superação

Desde que começou a trabalhar na Escola Municipal Dona Maria Artemir Pires, a professora Cátia Maria Alves Pereira resolveu trabalhar um tema que, mesmo sendo recorrente, nem sempre é tratado de forma a buscar a conscientização e a prevenção: o câncer.

Decidida a mostrar que cuidados simples podem ser eficientes no combate à doença que todos os anos tira a vida de milhares de pessoas, ela se juntou aos alunos da escola e, dentro do Programa União Faz a Vida, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura em parceria com o Sicred, colocou em prática o projeto “Câncer e Hábitos Errados na Alimentação”, que faz parte das atividades das aulas de Ensino Religioso.

A iniciativa da professora em trabalhar o tema tem a ver com um acontecimento familiar e também com casos vivenciados pelos alunos. “Ano passado a minha nora teve câncer e foi um impacto muito grande”, contou. O choque provocado pela notícia deu a Cátia uma nova percepção sobre a doença. “Eu percebi que quando você vivencia isso, você tenta se colocar no lugar do outro, tenta ser mais solidário, colaborar, então eu comecei a trabalhar o Projeto com o nono ano”, contou.

Conforme explicou a professora, durante as aulas são trabalhados assuntos como a importância de se ter uma alimentação saudável e da prática de exercícios para evitar a doença. Mas foi a solidariedade e a experiência vivida por um dos alunos da Escola que deram uma dinâmica diferente ao Projeto.

Aluno do nono ano, aos 14 anos João Guilherme Rondon Barbosa foi diagnosticado com Linfoma de Rodgkin estágio 4, um tipo de câncer que atinge o sistema linfático. Hoje, aos 15 anos, depois de um longo tratamento com oito sessões de quimioterapia e 30 de radioterapia, o garoto está curado e leva uma vida normal.

No entanto, o período que passou em tratamento desenvolveu em João Guilherme o desejo de ajudar aqueles que vivem o mesmo problema enfrentado por ele, o que o levou a sugerir à professora Cátia que fosse iniciada uma campanha de arrecadação de leite em pó e que todo o produto arrecadado fosse doado a Associação dos Amigos da Criança com Câncer (AACC) de Cuiabá.

Iniciado na última segunda-feira (11), a campanha já conseguiu arrecadar 50 latas de leite em pó. Além da Escola Dona Maria Artemir Pires, as doações podem ser feitas também nas Escola Municipais Monteiro Lobato, José Garbugio e Dona Sabina Lazarin Prati.

A arrecadação de leite sugerida à professora Cátia, segundo ele tem a ver com um propósito feito enquanto estava em tratamento. “Eu sempre quis servir a Deus depois que eu saísse [do tratamento] como se fosse uma maneira de recompensá-lo. Esse projeto não é meu, é da professora Cátia, ela quem fez essa escolha e eu achei maravilhoso porque eu sempre quis fazer uma ação dessas, mas eu sendo de menor é meio complicado. Mas eu sempre quis fazer uma ação dessas”, ressaltou.

Exemplo – De acordo com a professora Cátia, a experiência vivida por João Guilherme foi repassada por ele aos outros alunos em sala de aula com o objetivo de despertar neles a valorização da vida e também como forma de fazê-los ver o mundo com outros olhos, valorizando mais a si e a família. E o resultado, segundo ela, foi satisfatório. “Eu percebi que eles tiraram um bom proveito disso”.

Apesar da pouca idade, João Guilherme fala com propriedade sobre o problema vivido e a experiência de ter vencido o câncer. A doença, segundo ele, foi descoberta depois que a avó, que é enfermeira, deu nele um abraço e sentiu que em seu pescoço havia alguns nódulos.

Depois de uma série de exames e quatro meses de idas e vindas a médicos em Cuiabá, os sintomas, que inicialmente levantaram a suspeita de ser toxoplasmose, foi confirmado como Linfoma de Rodgkin estágio IV. “Foi um choque, porque eu não esperava isso. Eu fiquei bastante nervoso, a gente pensa que vai morrer. Eu mal sabia o que era quimioterapia. Foi um baque enorme. A gente chora muito”, contou.

Passado o susto inicial e o tratamento, João Guilherme admitiu que muita coisa mudou. “A gente que é jovem, quando tem uma experiência dessas começa a ver o mundo de outra maneira, porque a gente começa a dar mais valor às coisas que a gente tem”, destacou.

Ter passado pelo câncer fez João Guilherme rever suas atitudes e a forma como convivia com a família. “Eu brigava muito com meus pais em casa – principalmente com meu pai. Era um ‘pé de guerra. Depois dessa experiência eu comecei a dar valor ao que a gente tem”, afirmou, lembrando que durante o período em que esteve doente, o pai deixou o trabalho para cuidar dos outros dois filhos e usou todo o dinheiro que havia guardado ao longo de anos com as despesas do tratamento.

Toda a experiência vivida por João Guilherme lhe gabarita poder ser exemplo para muitas pessoas, sejam jovens como ele ou mesmo adultos. Para quem está enfrentando a doença, a mensagem é sempre pensar positivo. “Sempre ter isso como uma batalha pela qual a gente precisa passar, ter isso como um aprendizado. Deus escreve certo por linhas tortas e se a gente está passando por isso é porque Ele tem algum propósito”, disse.

João Guilherme afirma que ter vivido a experiência do câncer o fez perceber e aceitar que o jovem não é imortal e que a vida não é um filme que, quando acaba, todos voltam à vida. Para ele, depois de tudo que passou, ouvir e obedecer os mais experientes, especialmente pai e mãe, é fundamental.

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